Graciliano: retrato fragmentado
Publicado em 01 d novembro d 2011
Do site da Globo Livros
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Graciliano: retrato fragmentado, de Ricardo Ramos, é diferente de uma biografia em que a vida do personagem é explicitada em detalhes cronológicos do nascimento até a morte. Como indica o próprio nome, a história é contada de maneira fragmentada, o que não significa que esteja incompleta. Trata-se de um retrato profundo, feito por traços generosos, movidos pela memória afetiva do filho, também escritor, que desenham e destacam aspectos e momentos desconhecidos da vida de Graciliano Ramos. Aliás, um dos pontos de partida de Ricardo Ramos foi a constatação de que as várias biografias do grande escritor alagoano não davam a conhecer o homem por trás da obra, algo que este retrato desfaz definitivamente ao apresentar suas sutilezas e complexidades.
De Graciliano Ramos pode-se dizer que é, ao mesmo tempo, uma figura muito e pouco conhecida. Muito conhecida como a figura do escritor austero, além de autor de obras fundamentais do romance brasileiro do século XX, como Vidas secas. Mas dele também se pode dizer que faltam as nuances, o retrato de muitas facetas, suas dimensões humanas, pessoais. Pois como resume o autor,
“Graciliano não é uma personagem inteiriça, compacta, quase olímpica, sem a menor sombra de conflito ou dúvida. Não é criatura rude, sertanejo primitivo e pitoresco, o autodidata que certo dia simplesmente resolveu escrever. Não é um partidário, cego seguidor da regra política. Não é tampouco o intelectual cooptado, que teve de se adaptar às regras ditatoriais do Estado Novo”.
Daí Graciliano: retrato fragmentado ser, afinal, um livro de memórias que resgata e dimensiona para seu autor a figura paterna. Para os leitores, apresenta sua figura humana, abrindo um ciclo de reedições em torno da obra de Ricardo Ramos: a editora publicará nos próximos meses Rua desfeita, Os caminhantes de Santa Luzia e Circuito fechado.
Manuscritos inéditos e prefácio de Silviano Santiago
Graciliano: retrato fragmentado foi originalmente publicado em 1992, em comemoração ao centenário do nascimento de Graciliano Ramos. Segundo Rogério Ramos, filho de Ricardo e neto de Graciliano, “pela falta de tempo, a primeira edição saiu precursora de outra, futura, aquela que todos os envolvidos queríamos na rede afetiva e familiar que este livro evoca e realinha.” Quase vinte anos depois, esta é a nova edição. Revista e atualizada – com prefácio de Silviano Santiago, cujo título, “Colagem viva”, traduz o livro à perfeição –, é ilustrada com vasto material iconográfico, incluindo fotos e manuscritos inéditos, além de uma completa bibliografia e cronologia da vida de Graciliano Ramos. Merecem destaque também as apresentações dos filhos de Ricardo Ramos (netos de Graciliano), “Editar é preciso”, por Rogério Ramos e “Escrever é preciso”, por Ricardo Filho.
O autor
Ricardo Ramos nasceu em 1929 em Palmeira dos Índios (Alagoas), quinto filho do escritor Graciliano Ramos e primeiro de Heloísa de Medeiros Ramos. Na primeira infância, em uma Maceió que intensifica sua vida cultural, Ricardo vive num ambiente de escritores, que inclui José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Aurélio Buarque de Holanda e Valdemar Cavalcanti. Em 1936, Graciliano é preso em Maceió por motivos políticos e levado ao Rio de Janeiro. Heloísa parte para o Rio com as duas filhas menores. Ricardo vai morar com o avô materno. Inicia sua educação formal, ficando em Maceió até concluir o ginásio com os irmãos maristas. Retoma o contato com o pai somente em 1944, aos quinze anos, no Rio, onde inicia a atividade jornalística, ao mesmo tempo em que cursa direito. Começa a escrever contos e a trabalhar em publicidade.
Em 1954, publica Tempo de espera, primeiro de nove volumes dedicados à narrativa curta. A publicidade leva-o a se mudar para São Paulo, onde residiria por mais de trinta anos. É autor de dois romances, três novelas juvenis e dois ensaios. Foi traduzido para o inglês, espanhol, alemão, russo e japonês. Foi também editor, professor da ESPM e presidente da União Brasileira de Escritores (UBE). Faleceu em São Paulo, em 1992.
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