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Entrevistas com Graciliano Ramos revelam as palavras e o silêncio do escritor

Publicado em 16 d outubro d 2014

Diogo Guedes
para o Jornal do Commercio
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Não importa quem escrevesse sobre o escritor alagoano Graciliano Ramos, algo era sempre recorrente: ressaltar que se tratava de um homem de poucas palavras, até seco como alguns de suas personagens. O jornalista Francisco de Assis Barbosa, em 1942, conta que ele é “um problema para o repórter que se propõe a biografá-lo”. Joel Silveira, amigo do autor, vez ou outra insistia para conseguir arranjar um horário com o colega.

Tanto era assim que o Velho Graça ganhou muitas descrições e adjetivações ao longo da vida. Era o “matuto sóbrio”, quase arredio, de fisionomia e voz cansada, olhos vivos e alertas, gestos lentos, riso “curto, quase sem expressão”, fumante incurável dono de uma personalidade amabilíssima, mas nada expansiva – parte disso ou tudo de uma só vez, dependendo do interlocutor. Uma da figuras literárias que ficou mais imortalizada pelos seus trejeitos, Graciliano ganha agora um volume com uma reunião das entrevistas e depoimentos que deu ao longo da vida. Intitulado Conversas com Graciliano Ramos, o livro é organizado por Ieda Lebensztayn e Thiago Mio Salla e sai agora pela editora Record.

As Conversas – o título vem da preferência do autor por bate-papos informais em detrimento de entrevistas – têm um duplo papel: revelam o mito e o desconstroem, de uma só vez. Graciliano foi transformado, através de história contadas (e criadas) por amigos, como Aurélio Buarque de Hollanda, Joel Silveira e Otto Maria Carpeaux, numa espécie de Seu Lunga literário muito antes do personagem folclórico existir. Suas opiniões fortes sobre a literatura brasileira e sobre seus colegas de ofício são um exemplo, mas a fama ia muito além disso. As entrevistas mostram várias desses rompantes deliciosos, em uma rispidez que não deixa, nunca, de ser também amável.

No prefácio da obra, no entanto, os organizadores mostram como o livro permite ver, através de diferentes encontros e visões sobre o autor alagoano, uma sutileza. Graciliano não era só um homem calado, avesso a bate-papos. Ieda e Thiago ressaltam a importância de ver “a dimensão crítica de seus silêncios e das palavras que proferiu, a que não faltavam agudez, humor, afabilidade”.

De fato, a beleza do volume é que não se trata de uma reunião de depoimentos e respostas do autor. Há muito material para se ver as visões de Graciliano sobre o mundo político, o ofício da escrita e a análise das suas próprias obras. Só que parece ainda mais valioso olhar a descrição das suas expressões, as pausas para cigarros e as reticências, por exemplo. “Em certo sentido, Graciliano não só escreve, mas fala como quem passa um telegrama, ‘pagando caro por palavra’”, contam os organizadores. Isso é bem ilustrado em uma frase do alagoano sobre a origem da sua vontade de escrever: “Não podendo falar com os outros, habituei-me a falar só: a escrever”. Fica claro que a literatura, para ele, sempre foi uma negociação com o silêncio – daí a força de obras como Vidas secas e São Bernardo.

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CONHEÇA A OBRA DE GRACILIANO RAMOS

  • Caetés (1933)
  • Caetés – edição especial 80 anos (2013)
  • S. Bernardo (1934)
  • Angústia (1936)
  • Angústia – edição especial 75 anos (2011)
  • Vidas Secas (1938)
  • Vidas Secas – edição especial 70 anos (2008)
  • Vidas Secas – em quadrinhos (2015)
  • Infância (1945)
  • Insônia (1947)
  • Memórias do Cárcere (1953)
  • Viagem (1954)
  • Linhas Tortas (1962)
  • Viventes das Alagoas (1962)
  • Garranchos (2012)
  • Cangaços (2014)
  • Conversas (2014)
  • A Terra dos Meninos Pelados (1939)
  • Histórias de Alexandre (1944)
  • Alexandre e Outros Heróis (1962)
  • O Estribo de Prata (1984)
  • Minsk (2013)
  • Cartas (1980)
  • Cartas de Amor a Heloísa (1992)
  • Dois Dedos (1945)
  • Histórias Incompletas (1946)
  • Brandão entre o Mar e o Amor (1942)
  • Memórias de um Negro (1940) Booker T. Washington, tradução
  • A Peste (1950) Albert Camus, tradução

“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso.
A palavra foi feita para dizer.”

em entrevista a Joel Silveira, 1948