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Graciliano Ramos não sofreu com a transposição de livros para o cinema

Publicado em 20 d outubro d 2012

2012: 120 anos de Graciliano

O Estado de São Paulo
Por ANTONIO GONÇALVES FILHO
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Ao contrário de Guimarães Rosa, que não deu muito sorte com as adaptações de seus livros para o cinema, Graciliano Ramos não sofreu com a transposição de suas obras-primas, duas delas dirigidas por Nelson Pereira dos Santos, um dos nomes que ajudaram a consolidar a estética do Cinema Novo nos anos 1960. Vidas Secas, realizado por ele em 1963, foi o único filme brasileiro indicado pelo British Film Institute como essencial numa cinemateca de 360 obras de autor (selecionados em 1998). Indicado à Palma de Ouro em Cannes (1964), Vidas Secas conserva a mesma austeridade do romance que lhe deu origem, ao narrar a vida de retirantes da seca em luta pela sobrevivência num meio hostil. A trajetória da família de Fabiano é filmada em preto e branco (mais realista que o filme em cores), destacando-se os amplos espaços por onde circulam essas figuras miseráveis acompanhadas pela cadela Baleia.
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A segunda adaptação de Graciliano para o cinema, São Bernardo, dirigida por Leon Hirszman em 1972, é igualmente um filme rigoroso, contido, seco, em que a transformação do personagem Paulo Honório – de guia de cego em latifundiário – associa sutilmente seu enriquecimento material à deformação moral. O ator Othon Bastos domina a tela até a primeira metade do filme, quando surge outra personagem forte, a da mulher com quem se casa (Isabel Ribeiro, numa performance inesquecível).
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Finalmente, Memórias do Cárcere (1984) não é apenas o drama biográfico sobre o escritor, preso em 1936 sob a acusação de colaborar com a Aliança Nacional Libertadora. Mais uma vez, Nelson Pereira dos Santos se entrega à difícil tarefa de adaptar Graciliano para o cinema, contando com Carlos Vereza no papel do escritor. O diretor usa a cadeia como metáfora, onde Graça luta contra seus preconceitos, interagindo com ladrões e outros marginais, construindo um retrato do Brasil aprisionado ao passado. O diretor Sylvio Back pretende filmar Angústia, mas o projeto ainda não saiu do papel.
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CONHEÇA A OBRA DE GRACILIANO RAMOS

  • Caetés (1933)
  • Caetés – edição especial 80 anos (2013)
  • S. Bernardo (1934)
  • Angústia (1936)
  • Angústia – edição especial 75 anos (2011)
  • Vidas Secas (1938)
  • Vidas Secas – edição especial 70 anos (2008)
  • Vidas Secas – em quadrinhos (2015)
  • Infância (1945)
  • Insônia (1947)
  • Memórias do Cárcere (1953)
  • Viagem (1954)
  • Linhas Tortas (1962)
  • Viventes das Alagoas (1962)
  • Garranchos (2012)
  • Cangaços (2014)
  • Conversas (2014)
  • A Terra dos Meninos Pelados (1939)
  • Histórias de Alexandre (1944)
  • Alexandre e Outros Heróis (1962)
  • O Estribo de Prata (1984)
  • Minsk (2013)
  • Cartas (1980)
  • Cartas de Amor a Heloísa (1992)
  • Dois Dedos (1945)
  • Histórias Incompletas (1946)
  • Brandão entre o Mar e o Amor (1942)
  • Memórias de um Negro (1940) Booker T. Washington, tradução
  • A Peste (1950) Albert Camus, tradução

“Apareça o filho da puta que disse que eu não sabia montar em burro bravo!”

Em bilhete enviado a Chico Cavalcanti, aceitando a candidatura a prefeito de Palmeira dos Índios – AL, 1927 (O Velho Graça, Dênis de Moraes, Boitempo, pg. 61)