Biografia

“Os dados biográficos é que não posso arranjar, porque não tenho biografia. Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram. Veja o senhor como coisas aparentemente inofensivas inutilizam um cidadão. Depois que redigi esses infames relatórios, os jornais e o governo resolveram não me deixar em paz. Houve uma série de desastres: mudanças, intrigas, cargos públicos, hospital, coisas piores e três romances fabricados em situações horríveis – Caetés, publicado em 1933, S. Bernardo, em 1934, e Angústia, em 1936. Evidentemente, isso não dá uma biografia. Que hei de fazer? Eu devia enfeitar-me com algumas mentiras, mas talvez seja melhor deixá-las para romances.”

Trecho de carta enviada em nov.1937 por Graciliano a Raúl Navarro, tradutor argentino, para ser anexado a um conto em vias de publicação em Buenos Aires IN: Cartas inéditas de Graciliano Ramos a seus tradutores argentinos Benjamín de Garay e Raúl Navarro, p. 123, EDUFBA, 2008

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Abaixo, dados biográficos de Graciliano. Veja também a Linha do tempo. Para fotos, explore o Álbum de família.

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1892, 27/out: Graciliano Ramos de Oliveira nasce em Quebrangulo – AL, primeiro de dezesseis irmãos

1895, 23/jun: Muda-se com os pais para a Fazenda Pintadinho, em Buíque, sertão de Pernambuco

1899: Muda-se com os pais para Viçosa – AL

1904, 24/jun: Publica o conto Pequeno Pedinte, n’O Dilúculo, jornal do Internato Alagoano, de Viçosa-AL, onde estudava

1905: Muda-se para Maceió, onde passa a frequentar o Colégio Quinze de Março

1906, 01/fev: Redige o periódico quinzenal Echo Viçosense, que só teve dois números publicados em função do suicídio de seu mentor intelectual, Mário Venâncio, um dos redatores. Também publica sonetos na revista carioca O Malho, sob o pseudônimo Feliciano de Olivença

1909, 10/fev: Inicia sua colaboração ao Jornal de Alagoas, publicando o soneto Céptico, como Almeida Cunha. Neste jornal, publicou diversos textos sob vários pseudônimos, entre eles Soares de Almeida Cunha e Lambda, usado para trabalhos em prosa até
1913. Também colabora regularmente em O Malho, sob os pseudônimos de Soeiro Lobato e Soares de Almeida Cunha

1910, 27/out: No dia de seu 18º aniversário, passa a residir em Palmeira dos Índios – AL. Nesse ano, dá sua primeira entrevista como escritor ao Jornal de Alagoas, de Maceió

1911: Colabora no Correio de Maceió, como Soeiro Lobato

1914, 17/ago: Embarca em Maceió em direção ao Rio de Janeiro, à época Capital Federal, para tentar a sorte na imprensa, acompanhado de seu amigo Joaquim Pinto da Mota Lima Filho. Nesse ano, trabalha como revisor dos jornais cariocas Correio da Manhã, A Tarde e O Século, colaborando simultaneamente para o jornal fluminense Paraíba do Sul e para o Jornal de Alagoas, assinando “R.O.” (Ramos de Oliveira). A compilação destes textos compõe sua obra póstuma Linhas Tortas

1915, set: Retorna às pressas para Palmeira dos Índios – AL, motivado pela morte dos irmãos Otacília, Leonor e Clodoaldo e do sobrinho Heleno, vitimados pela epidemia de peste bubônica

1915, 21/out: Aos 23 anos de idade, Graciliano se casa em Palmeira dos Índios – AL com Maria Augusta de Barros, então com 21 anos. Deixa de colaborar com todos os periódicos

1916, 14/set: Nasce seu primeiro filho, Márcio Ramos, em Palmeira dos Índios – AL

1917, 30/abr: Assume a loja de tecidos Sincera

1917, 13/set: Nasce seu segundo filho, Júnio Ramos, em Palmeira dos Índios – AL

1919, 29/set: Nasce seu terceiro filho, Múcio Ramos, em Palmeira dos Índios – AL

1920, 23/nov: Nasce seu quarto filho, Maria Augusta Ramos, batizada com o mesmo nome da mãe, morta aos 26 anos em função de complicações do parto, em Palmeira dos Índios – AL

1921: Depois de cinco anos sem publicação, passa a colaborar com o semanário palmeirense O Índio, sob os pseudônimos J. Calisto, Anastácio Anacleto, J.C. e Lambda

1925: Começa a escrever Caetés, seu primeiro romance

1927, 07/out: É eleito prefeito de Palmeira dos Índios – AL

1928, 07/jan: Toma posse do cargo de prefeito. Conclui Caetés

1928, 16/fev: Aos 35 anos de idade, Graciliano se casa em Palmeira dos Índios – AL com Heloísa Leite de Medeiros, então com 18 anos

1929, 04/jan: Nasce seu quinto filho, Ricardo de Medeiros Ramos, primeiro filho do casal, em Palmeira dos Índios – AL. A 08/jan, envia ao governador de Alagoas o relatório de prestação de contas do município. O relatório, pela sua qualidade literária, chega às mãos de Augusto Frederico Schmidt, editor, que procura GR para saber se ele tem outros escritos que possam ser publicados

1930, 22/jan: Nasce seu sexto filho, Roberto de Medeiros Ramos, segundo filho do casal, em Palmeira dos Índios – AL. Publica artigos no Jornal de Alagoas sob o pseudônimo Lúcio Guedes. A 10/abr, renuncia ao mandato de prefeito. A 29/mai, muda-se para Maceió com a família, e a 31/mai, é nomeado diretor da Imprensa Oficial de Alagoas. Roberto morre com poucos meses de vida em Maceió – AL

1931, 19/fev: Nasce seu sétimo filho, Luiza de Medeiros Ramos, terceiro filho do casal, em Maceió – AL. A 29/dez, demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial de Alagoas

1932, jan: Escreve na sacristia da Igreja Matriz de Palmeira dos Índios os primeiros capítulos de São Bernardo, romance concluído nesse mesmo ano. Em abr, é operado em Maceió. A 09/nov, nasce seu oitavo filho, Clara Medeiros Ramos, quarto filho do casal, em Maceió – AL

1933, 18/jan: É nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente a Secretário Estadual da Educação. É contratado como redator do Jornal de Alagoas, onde publica vários trabalhos, entre eles Comandante dos Burros, Doutores e Mulheres, não publicados em livro. Publica também o romance Caetés, seu primeiro livro, pela Editora Schmidt – RJ

1934: Publica S. Bernardo (romance), seu segundo livro, pela Editora Ariel – RJ. A 18/nov, morre Sebastião Ramos de Oliveira, pai de Graciliano, em Palmeira dos Índios – AL

1936, 03/mar: É preso em Maceió – AL e levado para o Rio de Janeiro. Em ago, publica Angústia (romance), seu terceiro livro, pela Editora José Olympio – RJ. Angústia recebe o Prêmio Lima Barreto, instituído pela Revista Acadêmica

1937, 03/jan: É libertado no Rio de Janeiro. Escreve A Terra dos Meninos Pelados (infantil), que recebe, em abril do mesmo ano, o Prêmio de Literatura Infantil do Ministério da Educação

1938: Publica Vidas Secas (romance), seu quarto livro

1939, ago: É nomeado Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro. Publica A Terra dos Meninos Pelados (infantil), pela Livraria do Globo, de Porto Alegre – RS

1940: Traduz Memórias de Um Negro, de Booker T. Washington, para a Editora Nacional – SP

1941: Publica uma série de crônicas intituladas Quadros e Costumes do Nordeste, na Revista Cultura Política – RJ, material que viria a ser publicado sob o título Viventes das Alagoas

1942, out: Em jantar comemorativo de seu cinquentenário, recebe o Prêmio Felipe de Oliveira, pelo conjunto de sua obra. O romance Brandão Entre o Mar e o Amor, escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins – SP

1943, 04/set: Morre Maria Amélia Ramos, mãe de Graciliano, em Palmeira dos Índios – AL

1944: Publica Histórias de Alexandre (literatura infanto-juvenil), pela Editora Leitura – RJ

1945: Publica Infância (memórias), seu quinto livro, pela Editora José Olympio – RJ. Publica também Dois Dedos (contos) pela Revista Acadêmica – RJ. Em ago, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, a convite de Luís Carlos Prestes, Secretário Geral do partido

1946: Publica Histórias Incompletas, reunindo os contos Dois Dedos e Luciana, três capítulos de Vidas Secas e quatro de Infância

1947: Publica Insônia (contos), seu sexto livro, pela Editora José Olympio – RJ

1950, 24/ago: Morre Márcio Ramos, primeiro filho de GR, no Rio de Janeiro – RJ. Traduz A Peste, romance de Albert Camus, para a Editora José Olympio

1951, 26/abr: torna-se Presidente da Associação Brasileira de Escritores. Nesse ano, publica Sete Histórias Verdadeiras pela Editora Vitória – RJ, extraídas de Histórias de Alexandre

1952, abr a jun: Viaja pela União Soviética, Tchecoslováquia, França e Portugal. Em set, é operado, sem sucesso, em Buenos Aires, Argentina. A 05/out, retorna ao Rio de Janeiro, gravemente doente. A 27/out, sem sua presença, amigos e admiradores comemoram seu 60º aniversário no Salão Nobre da Câmara Muncipal do Rio de Janeiro, em sessão presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras

1953, 26/jan: É internado na Casa de Saúde São Victor. A 20/mar, morre de câncer no pulmão, no Rio de Janeiro – RJ.

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>>> depois de sua morte:

1953: Heloísa Ramos publica Memórias do Cárcere (memórias), sétimo livro de Graciliano

1954: Heloísa publica Viagem (crônicas), oitavo livro de Graciliano

1962: Heloisa Ramos publica Linhas Tortas (crônicas), Viventes das Alagoas (crônicas), Alexandre e outros Heróis (literatura infanto-juvenil). Vidas Secas recebe o Prêmio da Fundação William Faulkner (EUA) como livro representativo da Literatura Brasileira Contemporânea

1980, 11/out: Heloisa Ramos doa o Arquivo Graciliano Ramos ao IEB-USP, reunindo manuscritos, recortes de colaboração em jornais, revistas e críticas sobre GR, documentos pessoais, correspondência, fotografias, traduções e alguns livros

1982: Heloisa Ramos publica Cartas (compilação da correspondência pessoal de Graciliano)

1999, 23/jul: Morre Heloísa Ramos, viúva de Graciliano, em Salvador – BA

2012: Thiago Mio Salla organiza e lança Garranchos pela Editora Record, livro de textos inéditos de Graciliano

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CONHEÇA A OBRA DE GRACILIANO RAMOS

  • Caetés (1933)
  • Caetés – edição especial 80 anos (2013)
  • S. Bernardo (1934)
  • Angústia (1936)
  • Angústia – edição especial 75 anos (2011)
  • Vidas Secas (1938)
  • Vidas Secas – edição especial 70 anos (2008)
  • Vidas Secas – em quadrinhos (2015)
  • Infância (1945)
  • Insônia (1947)
  • Memórias do Cárcere (1953)
  • Viagem (1954)
  • Linhas Tortas (1962)
  • Viventes das Alagoas (1962)
  • Garranchos (2012)
  • Cangaços (2014)
  • Conversas (2014)
  • A Terra dos Meninos Pelados (1939)
  • Histórias de Alexandre (1944)
  • Alexandre e Outros Heróis (1962)
  • O Estribo de Prata (1984)
  • Minsk (2013)
  • Cartas (1980)
  • Cartas de Amor a Heloísa (1992)
  • Dois Dedos (1945)
  • Histórias Incompletas (1946)
  • Brandão entre o Mar e o Amor (1942)
  • Memórias de um Negro (1940) Booker T. Washington, tradução
  • A Peste (1950) Albert Camus, tradução

“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso.
A palavra foi feita para dizer.”

em entrevista a Joel Silveira, 1948